Tenho
observado ultimamente como a pretensa certeza da salvação tem levado a muitos
irmãos estagnarem na fé, no estudo da Palavra de Deus, e, até mesmo, na própria
vida cristã.
Sem
querer entrar no debate teológico sobre se podemos ou não perder a nossa
salvação após nos convertermos, pois, isso exigiria um estudo longo e complexo,
que não é o objetivo desse post, quero ao menos refletir um pouco sobre a
dinâmica da salvação.
Independentemente
de nossas convicções teológicas sobre as garantias de salvação, uma coisa é
evidente: Ela jamais pode nos levar a letargia e a inércia.
Talvez,
ainda influenciados pela imagem medieval de um céu monótono, onde os santos
viveriam em passiva beatitude, alguns irmãos parecem crer que, após adquirir a
salvação por meio do batismo, devem passar o resto de suas vidas em uma
estagnação quase mórbida e se limitam a frequentar cultos sem, contudo, se
envolver com a Palavra de Deus.
Crer e ser batizado
Ao
afirmar “quem crer e for batizado será salvo” (Mc. 16.16), Jesus não estava
limitando os critérios para salvação. Em hipótese alguma Ele estava
estimulando, nem mesmo autorizando, a apatia cristã entre os convertidos.
Percebamos
que na frase de Jesus existem dois verbos, um na voz ativa: crer, e outro na
voz passiva: ser batizado. Este último é realizado pelo Espírito Santo, é Ele
quem nos batiza, no entanto o primeiro, o verbo crer, é realizado por nós,
implica em uma atitude nossa.
Mas,
o que de fato é crer? Será que é algo estático? Será que é apenas acreditar? O
apóstolo Tiago responde bem a essa indagação quando afirma que até os demônios
creem e tremem (Tg. 2.19).
Na
Epístola de Paulo aos romanos encontramos essa outra afirmação a respeito da
salvação: “Se, com a tua boca, confessares, e, em teu coração, creres que Deus
o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm. 10.9). Embora, alguns
acreditem quer crer com o coração e confessar com a boca significa, tão
somente, o ato ritualístico de aceitar Jesus diante do púlpito, na verdade as
palavras do apóstolo são muito mais abrangentes.
Observemos
que o escritor de Hebreus nos recomenda a “conservarmos firmes a nossa
confissão” (Hb. 4.14), ora, se confessar Jesus, fosse algo estático, limitado a
um ritual dentro da igreja, não faria sentido falar em conservarmos firmes a
confissão.
O
que, então, significa crer com o coração e confessar com a boca? Se atentarmos
bem para toda a história de Jesus, contida nos evangelhos, Seus ensinamentos, e
nas palavras dos apóstolos em suas epístolas, perceberemos que o Senhor não
quer apenas que acreditemos em Sua Palavra, mas que a vivamos.
Toda
a Escritura é dinâmica, Deus é um Deus criador, Jesus em três anos de vida
missionária proclamou Sua vontade por vastas regiões, por que só a nossa
salvação deveria ser algo estático? Por que bastaria apenas dizer-se crente na
Bíblia e passar o resto da nossa existência desfrutando de uma espécie de
status quo da salvação?
As obras
O
próprio apóstolo Tiago chega a afirmar que a fé sem obras é morta (Tg. 2.17) e
ainda assevera que a religião pura e sem mácula para com Deus é visitar os
órfãos e as viúvas em suas tribulações e nos guardarmos incontaminados do mundo
(Tg. 1.27). Não é, portanto, de forma alguma, nos submetermos ao batismo e em
seguida passar o resto da vida cristã sentado num banco de uma igreja.
Por que bastaria apenas dizer-se crente na Bíblia e passar o resto da nossa existência desfrutando de uma espécie de status quo da salvação?
Isso
quer dizer que a salvação é pelas obras? De forma alguma. O apóstolo Paulo em
sua carta aos efésios nos revela que somos salvos pela graça mediante a fé e
que isso é dom de Deus, não de obras (Ef. 2.8-9), no entanto afirma, logo em
seguida, que somos criados em Cristo Jesus, para boas obras, as quais Deus de
antemão preparou para que andássemos nelas (Ef. 2.10). Deus não as preparou
para que sentássemos nelas, mas para que andássemos nelas, as executássemos,
por que, caso contrário, nossa fé, nossa crença, nossa confissão estará morta
(Tg. 2.17).
Não
estou aqui afirmando que aceitar a Jesus diante do púlpito é desnecessário ou
que a cerimônia do batismo não tem valor, muito pelo contrário, são passos
fundamentais da nossa nova vida, da nossa vida com Cristo, mas devemos atentar
também nas palavras do apóstolo João ao categoricamente afirmar que para
estarmos realmente em Cristo devemos andar assim como Ele andou (1Jo. 2.6).
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