A VIDA POR DESPOJO

Se alguém lhe perguntasse hoje sobre o que você gostaria de receber de Deus, o que responderia? Você seria capaz de relacionar, neste momento, as bênçãos que gostaria de receber do Senhor?

Algumas pessoas talvez não soubessem responder de imediato a essa pergunta, outras, talvez, timidamente, pediriam recursos financeiros para se manter e um pouco de paz familiar, alguns buscariam respostas genéricas e subjetivas como felicidade, amor e sucesso, outros, ainda, poderiam ser mais específicos e pedir sucesso na profissão, uma casa, o casamento com determinada pessoa etc. algumas respostas poderiam ser mesmo bem criativas.

Naturalmente, todos temos sonhos, desejos, uns talvez mais ambiciosos, outros mais modestos, mas até mesmo o conceito de o que é um plano ambicioso e o que é um plano modesto tem muito maior relação com a cultura em que vivemos, com o contexto em que nos encontramos e com nossos paradigmas, do que com a realidade.

Se tenho uma vida sedentária e sonho em ser campeão de uma maratona internacional daqui a seis meses, posso considerar esse desejo ambicioso e ousado, no entanto, se esse sonho povoa a mente de um atleta, a sua concretização deixa de parecer tão espetacular.

Podemos pedir qualquer coisa a Deus?

Se lembrarmo-nos que Deus é o criador dos céus e da terra (Gn. 1.1) que é dEle todo ouro e toda a prata (Ag. 2.8) e tudo o que a terra contém (Sl. 24.1) e que ao Senhor Jesus foi dado todo o poder nos céus e na terra (Mt. 28.18) e ainda que somos feitos filhos de Deus (Jo. 1.12) e que Ele jamais nega o melhor a seus filhos (Mt. 7. 7-11), fica fácil perceber que podemos pedir ao Senhor o que for de melhor, porque não há limites para Deus, pois para Ele nada é impossível (Lc. 1.37) e agindo Ele, quem O impedirá? (Is. 43.13).

Porém, não obstante, o poder e o amor infinito de Deus, isso não significa, de fato, que basta pedirmos ao Altíssimo o que quisermos para sermos prontamente atendidos. Em alguns casos não somos atendidos porque pedimos mal (Tg. 4.3), outros, porque é Ele quem sabe os planos que tem para nós e são todos planos de bem e não de mal (Jr. 29.11).

Se nada do que pedíssemos a Deus nos fosse concedido poderíamos mesmo reclamar? Se a única benção que nos tocasse fosse a vida eterna, poderíamos nos considerar injustiçados?

As Escrituras nos contam sobre um homem, um escrivão (Jr. 36.26), que acompanhava o profeta Jeremias e por meio de quem o profeta escreveu em um livro as profecias contra Israel, Judá e todas as nações (Jr. 36.2 - 4). Baruque era seu nome. Ele foi enviado pelo profeta para ler as profecias no templo (Jr. 36.10) e perante os príncipes (Jr. 36.14-15). Quando perseguido juntamente com Jeremias, foi escondido por Deus (Jr. 36.26). Porém Baruque era um homem e, como qualquer homem, tinha sonhos e projetos que desejava ver realizados.

Baruque dominava a difícil e dispendiosa arte de escrever daquela época e, certamente, ansiava pelo reconhecimento de seus esforços, buscava o sucesso em sua profissão.

Porém, talvez aquele homem não tenha atentado para a gravidade daquelas palavras que ele mesmo escrevera no livro que o profeta ditara, talvez ele não tenha percebido a grandeza da benção que o Senhor já lhe dera e, para que não se perdesse em sonhos e devaneios, o próprio Deus, por intermédio do profeta Jeremias o esclareceu dizendo: “Assim diz o SENHOR, Deus de Israel, acerca de ti, ó Baruque: Disseste: Ai de mim agora! Porque me acrescentou o SENHOR tristeza ao meu sofrimento; estou cansado do meu gemer e não acho descanso. Assim lhe dirás: Isto diz o SENHOR: Eis que estou demolindo o que edifiquei e arrancando o que plantei, e isto em toda a terra. E procuras tu grandezas? Não as procures; porque eis que trarei mal sobre toda carne, diz o SENHOR; a ti, porém, eu te darei a tua vida como despojo, em todo lugar para onde fores. ” (Jr. 45.2-5).

O resgate da vida de Baruque

Aqueles tempos eram difíceis, Deus executava seu juízo sobre toda a terra, dor e sofrimento se espalhavam por todos os lugares e, nesse contexto, ter a própria vida preservada, onde quer que estivesse, era uma benção incomensurável dada a Baruque. Não apenas porque era a garantia que permaneceria vivo durante toda aquela tribulação, mas, principalmente, porque era o próprio Deus que estava cuidando de sua vida, era o Senhor que guardaria a sua vida.

Que benção maior poderia ter aquele homem do que ter a sua vida guardada por Deus, nas mãos do Senhor? Porque quem permanece nas mãos de Deus não se perde e não encontra a morte.

A palavra despojo significa conjunto de coisas tomadas do inimigo durante uma guerra, no original hebraico a palavra utilizada é שלל (shâlâl) que significa, literalmente, presa de guerra, ou seja, provavelmente, Deus está revelando que a vida de Baruque estava entregue ao inimigo, a Satanás, para a morte, mas o Senhor a estava resgatando e dando-a a Baruque de volta, como despojo da guerra que já estava vencida por Deus contra Satanás que, naquele tempo, dominava sobre toda a terra.

...de tudo que possamos almejar e alcançar o que mais importa, e o único bem realmente durável, é a nossa vida, porque ela nos foi dada por Deus, a cedemos ao inimigo quando consentimos em pecar

Como vemos, Deus estava dando a Baruque (cujo nome em hebraico é ברוך  (bârukh) e significa bem-vindo, abençoado) muito mais do que a manutenção da sua vida biológica, mas lhe garantia a vida eterna.

Se observarmos o contexto atual de nosso mundo que jaz no maligno (1Jo. 5.19) e em que toda a criação sofre um profundo processo de deterioração em virtude do pecado (Gn. 3. 17-18) é perfeitamente plausível nos perguntarmos se não nos encontramos em situação semelhante à de Baruque.

O fato é que em qualquer contexto termos a nossa vida nos devolvida por Deus como despojo da grande guerra entre Deus e Satanás é uma benção indescritível, pois bem sabemos que todos pecamos e carecemos da glória de Deus (Rm. 3.23).

Por isso, ao formularmos nossos planos percebamos que Deus não é contra planejarmos, sonharmos e desejarmos êxito, no entanto, lembremos que de tudo que possamos almejar e alcançar o que mais importa, e o único bem realmente durável, é a nossa vida, porque ela nos foi dada por Deus, a cedemos ao inimigo quando consentimos em pecar, mas podemos tê-la de volta, feito um despojo, se buscarmos de todo o coração (Jr. 29.13) aquele que a pode nos devolver. 

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