A NOVA CRIATURA

Encontramos na primeira carta de João a seguinte afirmação: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.” (1Jo. 3.2) e podemos nos perguntar o que de fato isso significa.

Em primeiro lugar devemos descobrir a quem o evangelista chama de amados, sobre os quais afirma serem agora filhos de Deus. Esse questionamento é fácil de resolver pois o próprio evangelista esclarece quem pode ser chamado filho de Deus, quando escreve: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (Jo. 1.12). Portanto os amados de João a quem ele chama de filhos de Deus são todos aqueles que recebem o Senhor Jesus como seu único e suficiente salvador e que creem em Seu nome.

O Processo

No entanto em seguida o evangelista faz uma profunda revelação, ele diz: “ainda não se manifestou o que haveremos de ser”, ou seja, João está revelando que quando nos unimos a Cristo tornando-nos uma nova criatura (2Co. 5.17) iniciamos um processo de transformação que envolve todo o nosso ser, mas que só estará completo na eternidade.

Porém, isso não quer dizer que a nova criatura só surge após o juízo. Na verdade, ao nos unirmos sinceramente a Jesus já somos regenerados ainda que os sinais da regeneração surjam paulatinamente. O momento do batismo é o momento da concretização desta transformação, mas a ação deste sacramento na vida do convertido se prolonga até a sua morte executando sua função transformadora. A esse caminhar na justiça se refere o livro de Provérbios onde se lê: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” (Pv. 4.18).

Portanto, ainda que os sinais de transformação não sejam patentes na vida de alguém, devemos buscar enxerga-lo com os olhos da fé que vê a essência divina depositada no fundo do coração de cada um. É a esse enxergar além do que é visível que se refere o escritor da carta aos hebreus quando diz: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.” (Hb. 11.1).

O Resultado

Ainda no versículo da carta de João, o evangelista continua dizendo: “Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”. Certamente João está se referindo à segunda volta de Cristo, ao momento em que Ele separará os escolhidos para o Seu Reino e permanecerá definitivamente com eles. Porém o que podemos saber a respeito dessa semelhança da qual fala o evangelista?

...na nova vida teremos nosso corpo e a nossa mente transformados e assim não estaremos mais sujeitos às limitações da carne...

É evidente que não podemos conhecer todos os detalhes da vida futura, pois alguns mistérios pertencem só a Deus (Dt. 29.29) porém encontramos nas Sagradas Escrituras algumas dicas a esse respeito, por exemplo Paulo escrevendo aos filipenses diz: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.” (Fp. 3. 20-21) e em sua primeira carta aos coríntios revela: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido.” (1Co. 13.11-12).

É possível portanto compreender que na nova vida teremos nosso corpo e a nossa mente transformados e assim não estaremos mais sujeitos às limitações da carne, nem sofreremos mais as dores provocadas pelo pecado e nossos olhos se abrirão para o verdadeiro conhecimento, o conhecer ao Senhor. Utilizando-me de uma terminologia de Aristóteles, posso dizer que aquele que recebe Jesus em sua vida, embora ainda não possua essa nova realidade em ato, a possui em potência e João enxergava isso, com os olhos da fé.

Recebamos, pois, a Cristo Jesus em nossa vida para que naquele dia possamos desfrutar junto dEle da verdadeira vida.

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