Encontramos no livro de Apocalipse um texto que tem muita relação com os dias atuais nas igrejas: “Ao anjo da igreja em Laodiceia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Ap. 3. 14-16).
Por se tratar de um tema
relativamente complexo proponho um estudo em duas partes a serem publicadas nas
postagens do blog Preceitos de Fé. Iniciemos então com uma análise dessas
palavras do Senhor:
O Quente e o Frio
Pode parecer estranho o Anjo de
Deus aparentemente demonstrar preferência pelo frio, pessoas e obras frias no
que diz respeito ao Senhor, em detrimento das que são mornas. Em nossa lógica
linear humana poderíamos imaginar que o morno está mais próximo do quente do
que o frio, como se ele já estivesse a meio caminho de alcançar o calor do fogo
do Espírito Santo e assim ser uma pessoa “quente”. No entanto os pensamentos do
Senhor são mais altos do que os nossos (Is. 55.9) e Deus enxerga a realidade da
vida de forma plena.
É fácil entender que aqueles que são considerados quentes, são, de fato, os que possuem o fogo do Espírito, buscam o Senhor com sinceridade e fazem Sua obra com alegria e dedicação. Da mesma forma também fica claro que os considerados frios são aqueles que estão longe do Senhor e nem sequer o buscam. No entanto para entendermos os que são considerados mornos precisamos algumas informações prévias.
Bem sabemos que é Deus quem
efetua em nós o querer e o realizar, segundo a Sua boa vontade (Fp. 2.13) e que
não fomos nós que o escolhemos, mas Ele quem nos escolheu (Jo. 15.16) porque
Ele nos amou primeiro (1Jo. 4.19), portanto o nosso movimento em direção a
Cristo é na verdade uma resposta ao movimento de revelação de Deus em direção a
nós, assim aquele que é “quente” só o é porque o Espírito Santo já atua nele
desde o estado anterior. Não nos tornamos quentes para só então o Espírito agir
em nós, ao contrário se o somos é em virtude do agir do Espírito Santo que nos
convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo. 16.8). Compreendido isso,
percebemos que o morno, nesse contexto, não é um estágio intermediário do
caminhar até o quente.
A Mediania
Se compararmos a ideia
aristotélica de mediania com a realidade aqui estudada poderemos compreender
melhor em que ponto se encontra o “ser morno”. Para Aristóteles a mediania
seria algo como um ponto de equilíbrio entre dois extremos no entanto a própria
mediania era o extremo de cada extremo, assim por exemplo o igual é maior do
que o menor, portanto oposto a ele (extremo) e menor do que o maior, portanto
também oposto a esse e extremo dele.
...retomando a ideia aristotélica de mediania percebemos que temos um ponto central: a comunhão com Deus...
No caso que estudamos aqui temos:
o frio – aquele que está distante do Senhor e não tem desejo de busca-lo; o
quente – aquele que busca o Senhor com sinceridade e está em comunhão com Ele;
o morno – aquele que não é frio pois já teve contato com o Senhor, conhece Sua
Palavra mas ainda assim não o busca nem O quer buscar com sinceridade e sua
relação com Deus é apenas aparente.
Desse modo, retomando a ideia
aristotélica de mediania percebemos que temos um ponto central: a comunhão com
Deus – o ser quente; e dois extremos: o ser frio por estar distante de Deus e o
ser morno por não querer estar com Deus.
Porém ainda podemos perguntar
qual o motivo da preferência de Deus pelos quentes e frios em detrimento dos
mornos. Essa questão abordaremos na próxima postagem do blog Preceitos de Fé.
Então, até lá.
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