Após
contar a parábola do semeador (Mt.13. 1-9) Jesus foi procurado por seus
discípulos que lhe perguntaram: “Por que lhes falas por parábolas? ” (Mt.13.10). O Mestre então respondeu que assim fazia porque aos discípulos era concedido
conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles para quem falava naquele
momento não, e, sendo assim, eles ouviam as palavras de Jesus, mas não
entendiam (Mt. 13.11-13).
O
Senhor ainda afirmou que fazendo dessa forma se cumpria a profecia de Isaías
que dizia: “Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os
olhos e de nenhum modo percebereis. Porque o coração deste povo está
endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não
suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração,
se convertam e sejam por mim curados. ” (Mt. 13.14-15).
Deus escolhe pessoas?
Ao
lermos esse relato podemos ser tentados a acreditar que Deus faz acepção de
pessoas, pois, aparentemente, escolheu alguns para revelar os mistérios enquanto
a outros deixava premeditadamente na escuridão da ignorância. Vendo desta forma
parece até maldade do Senhor, pois não queria que aqueles se convertessem e
fossem curados.
Mas,
como conciliar esse entendimento com a infinita misericórdia de Deus? Como
enxergar a bondade do Senhor dessa forma? Estaria Jesus contrariando as
palavras de Pedro quando disse que Deus não faz acepção de pessoas? (At. 10.34)
e o que dizer da palavra dita por Deus, por meio do profeta Ezequiel, que
afirma que o Senhor não se contenta com a morte do perverso, mas deseja que ele
se converta dos seus caminhos e viva? (Ez. 18.23).
Antes
que pensemos que se trata de uma contradição bíblica ou de alguma maldade de
Deus, ou que sejamos seduzidos pela ideia antibiblica de que Deus escolhe
alguns para salvação e outros para perdição, analisemos o contexto deste
relato.
Jesus
já havia iniciado Seu ministério e pregara a boa nova em diversas cidades,
sendo rejeitado ou ignorado em muitas delas, pois o povo, em sua maioria Judeu,
enxergava em Jesus um blasfemador, uma vez que, para eles, desrespeitava as
leis de Moisés. Frequentemente em suas pregações estavam presentes escribas e
fariseus, profundos estudiosos das escrituras.
Um
pouco antes desse relato, vemos, no capítulo 12 do mesmo evangelho de Mateus, alguns
escribas e fariseus pedindo um sinal da parte do Mestre para que pudessem
reconhece-lo como enviado do Senhor, mas sendo repreendidos por Ele. (Mt. 12.38-42).
Sabemos
que os judeus desde muito novos são levados por seus pais a estudarem o Tanakh
(que hoje é conhecido pelos cristãos como Antigo Testamento) tendo, portanto
desde cedo, e durante toda a vida, contato frequente com a Palavra de Deus. Dessa
forma, percebemos que Jesus falava, geralmente, para plateias compostas por
grande maioria de pessoas que já possuíam algum conhecimento da Palavra do
Senhor.
Dentre
essas pessoas que ouviam as palavras de Jesus, alguns eram escribas e fariseus,
que eram judeus que se dedicavam ainda mais profundamente ao estudo das Escrituras
Sagradas e, por isso, eram considerados, inclusive por eles mesmos, como
sábios.
A quem Jesus falava
Pois
bem, era a respeito desse povo que Jesus falava quando, citando a profecia de
Isaias, disse que “o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram
com os ouvidos e fecharam os olhos” (Mt. 13.15). O Senhor se referia àqueles
judeus que de má vontade ouviam a Palavra de Deus, mas endureciam o coração,
não se importavam sinceramente com a vontade do Altíssimo.
Jesus
não se referia aos humildes que não conheciam a Palavra de Deus nem aos que a
conheciam e a recebiam, mas a um povo que se considerava mais sábio que os
demais, por ter sido escolhido por Deus para receber e guardar a Sua Lei (Rm.3.2). No entanto o Mestre demonstrava com aquelas palavras que de nada
adiantava ser o povo escolhido para guardar a Lei de Deus se eles não a viviam,
pois se contentavam em estuda-la e conhece-la apenas com o intelecto, mas não a
recebiam em seus corações, e, por isso, a conheciam apenas exteriormente e se
perdiam em rituais e elucubrações infrutíferas.
Dessa
forma, percebemos que Jesus está afirmando que aos humildes de coração (Mt. 5.3),
representados naquele momento por seus discípulos, era dado conhecer a verdade,
porque a conheciam como ela deve ser conhecida: com o coração, em espírito e em
verdade (Jo. 4.23), pois as coisas espirituais se discernem espiritualmente (1.Co.2.14).
No entanto o Mestre demonstrava com aquelas palavras que de nada adiantava ser o povo escolhido para guardar a Lei de Deus se eles não a viviam...
Porém,
aqueles que se enchiam de soberba por sua cultura, instrução e capacidade
intelectual e em seus corações contemplara a vaidade (Sl. 66.18), não
possuiriam a verdadeira compreensão e, como não guardavam em seus corações as
Palavras do Senhor, incorriam em pecado contra Deus (Sl. 119.11) e, sendo
assim, permaneceriam afastados do Pai (Is. 59.2), não se converteriam nem
seriam curados dos seus males (Mt. 13.15).
Portanto,
longe de se tratar de acepção de pessoas, maldade ou predestinação, as sábias
palavras do Senhor Jesus se referem às consequências das atitudes daquele povo
frente a Palavra de Deus e revelam, maravilhosamente, a Sua Justiça.
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