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MISERICÓRDIA E VERDADE

No Antigo Testamento existem cinco livros que são chamados proféticos por conterem poesias em seu conteúdo, são eles Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares ou Cântico dos Cânticos. Desses, três são classificados como livros sapienciais ou de sabedoria: Jó, Provérbios e Eclesiastes (na bíblia católica ainda são incluídos nessa categoria os livros Eclesiástico e Sabedoria).

A Poesia Hebraica

Na poesia hebraica (é bom lembrar que o Antigo Testamento foi quase que integralmente escrito na língua hebraica) existe uma característica peculiar que se chama paralelismo. Os versos não possuem necessariamente rimas como a poesia ocidental moderna que normalmente conhecemos, mas eles têm uma relação entre si que pode ser de três formas: antitética, sinônima ou sintética.

Rm. 6.23

O texto do livro de Provérbios que iremos analisar neste post possui uma relação sinonímica, ou seja são duas sentenças que apresentam esse tipo de relação. O texto é o seguinte: “Pela misericórdia e pela verdade, se expia a culpa; e pelo temor do SENHOR os homens evitam o mal.” (Pv. 16.6).

A princípio pode parecer difícil entender onde encontramos os sinônimos nesse texto, mas um olhar atento perceberá que existe essa relação de paralelismo entre as expressões “pela misericórdia e pela verdade” e “pelo temor do Senhor” e também entre “se expia a culpa” e “evitam o mal”.

Um dos motivos da beleza e da profundidade desse texto encontramos justamente na forma em como ele foi construído, por isso é muito importante sabermos que não podemos ler a bíblia como se toda ela fosse escrita em um único gênero literário. Para compreendermos bem o significado do texto bíblico, dentre outros requisitos, precisamos também respeitar o gênero literário do livro bíblico que estamos lendo, não podemos, por exemplo, ler um livro poético como se fosse um livro histórico, ainda que contenha algumas informações históricas nele. 

Atributos

É fácil perceber que os termos misericórdia e verdade nesse verso não se referem aos atributos do Senhor, mas se referem ao homem, pois Deus não possui culpa para expiar. Se observarmos também o capítulo 16 desde o início fica claro que o autor está se referindo ao ser humano.

O texto então está revelando que o temor do Senhor é expresso por meio de atitudes de misericórdia e verdade com o outro e não simplesmente por oração e contemplação, mas que por ação de misericórdia e verdade em direção ao outro é que se expia a culpa e evita o mal, ou seja, se evita o pecado e seu salário de morte (Rm. 6.23).

Esse ensinamento era importante na época em que o livro de Provérbios foi escrito (e ainda o é hoje)...

Mas o texto não está de forma alguma relacionando a salvação com as obras, e sim confirmando o ensinamento bíblico de que o temor do Senhor produz necessariamente obras, pois como diz Tiago a fé sem obas é morta (Tg. 2.17) e tais obras (de misericórdia e verdade) devem ser direcionadas ao outro, ao próximo, pois “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.” (1Jo. 4.20).

Esse ensinamento era importante na época em que o livro de Provérbios foi escrito (e ainda o é hoje) pois era comum as pessoas acharem que apenas através das cerimônias religiosas era possível se chegar a Deus e obter o perdão. Porém o próprio Senhor Deus afirmou, “Pois, misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.” (Os. 6.6) E bem sabemos que é o amor que cobre a multidão de pecados (1Pe. 4.8).

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