O
Livro de Jó é repleto de ensinamentos sobre o Senhor e sobre fidelidade. Também conhecemos nele a virtude da paciência de um verdadeiro filho de Deus.
No
entanto, quando lemos sua história é inevitável nos questionarmos: por que
Deus permitiu que tudo aquilo acontecesse com seu filho fiel?
É
evidente que a resposta completa a essa pergunta só Deus a tem, pois apenas Ele
conhece todas as coisas, porém o próprio texto do livro nos dá algumas dicas.
A
Palavra de Deus revela que Jó era um homem íntegro, reto e temente a Deus (Jó.1.1) e também possuidor de muitos bens (Jo. 1.3). Tinha ele sete filhos e três
filhas (Jo. 1.2).
Após
a permissão de Deus (Jo. 1.12), Satanás consegue tocar em seus bens e em sua
família (Jo. 1.13-22).
A família de Jó
Observamos, neste texto, que, embora Jó fosse um homem temente a Deus, seus filhos e sua esposa parecem
não compartilhar do mesmo temor fervoroso. Isto se depreende dos relatos que
encontramos nos versículos 4 e 5 do capítulo 1 e do versículo 9 do capítulo 2.
Os
versículos 4 e 5 do capítulo 1 nos contam que os filhos de Jó frequentemente se
reuniam na casa de um deles em banquete, cada um por sua vez, para comerem e
beberem e que, decorrido o período de seus banquetes, Jó chamava seus filhos e
os santificava, pois receava que em suas festas eles tivessem pecado e blasfemado
contra Deus em seus corações.
Jó,
aparentemente, reconhecia que seus filhos não tinham o mesmo temor ao Senhor que
ele possuía, pois era necessário repetir essa purificação continuamente (Jó.1.5), embora não fossem filhos que rejeitassem a Deus.
O
versículo 9 do capítulo 2 parece demonstrar que sua esposa também não comungava
do mesmo temor ao Senhor que seu marido, pois, em um momento de
desespero, ao ver seu marido ferido de tumores malignos (Jó. 2.7), questiona:
“Ainda conservas a tua integridade? ” E em seguida recomenda: “Amaldiçoa a Deus
e morre”.
Embora
a afirmação de sua esposa demonstra que ela não possuía o mesmo temor a Deus
que seu esposo, também demonstra que ela reconhecia Deus como o Senhor, pois
bem sabia que ao amaldiçoa-LO Jó morreria, além do mais permaneceu ao lado de
Jó mesmo com toda adversidade.
O sofrimento da família
Os
versículos 18 e 19 do capítulo 1 relata que quando os filhos de Jó estavam em
um dos seus banquetes e comiam e bebiam vinho, um forte vento derrubou a casa
onde estavam e todos eles morreram.
Percebemos aqui que, embora Jó se levantasse de madrugada e oferecesse holocaustos ao Senhor
segundo o número de seus filhos todas as vezes em que eles se reuniam para
comer e beber em seus banquetes (Jó. 1.5), certamente rogando a Deus para que
perdoasse seus filhos, caso tivessem pecado, isso não os livrou da morte.
Ocorre
que, embora seja fundamental orarmos a Deus por nossa família, a comunhão com
Ele é pessoal, pois obedece a um princípio do Senhor revelado em Ez. 18.20 que
diz: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai,
nem o pai, a iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a
perversidade do perverso cairá sobre este. ”.
A,
talvez, superficial proximidade de Deus que os filhos de Jó possuíam foi o
suficiente para permitir que Satanás tocasse em suas vidas. Da mesma forma foi
o que permitiu que a esposa de Jó tivesse de passar pela dolorosa experiência
de perder todos os filhos e ainda ver seu esposo doente por certo período.
O relacionamento de Jó com Deus
Alguns
comentadores bíblicos encontram no versículo 25 do capítulo 3 uma possível indicação de
um dos motivos. Segundo eles, ao Jó afirmar que o que ele temia lhe sobrevinha,
estaria demonstrando pouca fé e a existência do medo em seu coração.
De
fato, ao falar de Jó, Deus utiliza os adjetivos íntegro, reto e temente a Deus
(Jó. 1.8), mas não afirma que ele tem fé, no entanto não podemos dizer com
segurança que alguém que passa pelo que Jó passou e se mantém íntegro é uma
pessoa temerosa ou fraca na fé, ademais sua afirmação se deu quando ele já
havia perdido seus bens, seus filhos e sua saúde.
Vejo
uma indicação mais clara, embora ainda tênue, pois só o Senhor conhece todas as
coisas, no versículo 5 do capítulo 42 quando o próprio Jó afirma que conhecia a
Deus só de ouvir, mas agora seus olhos O viam.
O Senhor se revela a Jó e demonstra que o conhecimento que a Lei lhe dava de Deus ainda era incompleto, pois falta-lhe o conhecimento da Graça
O motivo do sofrimento
Parece-me
que faltava a Jó um encontro com Deus, faltava-lhe um conhecimento mais íntimo
com o Senhor. O que ele conhecia de Deus era o que ouvira de seus pais, das
tradições, da Lei, que corretamente o ensinara a ser reto e temente a Deus, mas
que o prendera em uma relação quase que puramente racional entre o Criador e a
criatura, supervalorizando as boas obras. Por isso, possivelmente, ele achava que os rituais de purificação que realizava em favor dos filhos eram suficientes para salvá-los e se considerava perfeito diante de Deus por realizar as obras da Lei.
Deus, ao permitir seu sofrimento, ensina a Jó, de maneira inquestionável, que a salvação é pela graça e que ela é
dom de Deus (Ef. 2.8) e não vem por obras. O Senhor se revela a Jó e demonstra
que o conhecimento que a Lei lhe dava de Deus ainda era incompleto, pois
falta-lhe o conhecimento da Graça (Jó. 38- Jó. 41).
Jó
reconhece sua ignorância (Jó 42.3) e percebe que os caminhos do Senhor são
inescrutáveis (Rm. 11.33), mas agora sente-se próximo de Deus, pois seus olhos
o viam (Jó. 42.5), e o viam não pela letra que mata, mas pelo espírito que
vivifica (2Co. 3.6).
Ao
compreender melhor a Deus e, com isso, fortalecer ainda mais a sua fé, Jó é
abençoado e sua vida restaurada em dobro de tudo o que antes possuíra (Jó.42.10).
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