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O SOFRIMENTO

Vez por outra encontramos alguém, normalmente bem-intencionado, se esforçando para consolar outro que padece de algum tipo de sofrimento e que para isso diz coisas como: Deus quis assim” ou “foi a vontade de Deus” ou ainda “você foi escolhido por Deus”. Tais pessoas, não obstante a provável boa intenção, não possui fundamentação bíblica para fazer essas afirmações.

É evidente que cada caso guarda suas particularidades, porém muitas vezes, se não sabemos o que dizer é melhor oferecermos apenas a nossa companhia, por vezes apenas a presença amiga já é capaz de aliviar uma dor.

A Vontade de Deus

Devemos ter em mente também o quão doloroso é para uma pessoa que passa por uma dificuldade séria na vida ou por algum tipo de sofrimento profundo ouvir que o único Deus a quem ela poderia clamar para aliviar sua dor ou lhe socorrer em sua necessidade é o autor do seu padecimento. Falar isso para alguém que sofre é falta de caridade e desconhecimento dos atributos de Deus.

Sl. 127.3

É relativamente comum ouvirmos pessoas dizerem a casais que geraram filhos com alguma dificuldade motora, física ou mental que aqueles pais foram escolhidos por Deus para trazerem ao mundo aquela criança. Não obstante os filhos sejam bênçãos do Senhor (Sl. 127.3) em qualquer situação e também por isso devem ser amadas pelos pais com o mais profundo do coração, a afirmação citada não possui qualquer fundamentação bíblica.

Como nascemos, em que condições físicas, financeiras, culturais, sociais etc. faz parte do desenvolvimento da raça humana e suas sociedades. Hereditariedade, doenças, contaminação, acidentes e tantos outros fatores podem provocar má formação fetal ou diversas outras dificuldades na vida de alguém. Não faz sentido, por exemplo, dizer que determinada pessoa que sofreu um acidente por causa de alguém que bebeu ao volante passou por essa infelicidade porque Deus quis dessa forma.

O Pecado Original

Quando o primeiro casal pecou (Gn. 3.6) trouxe o pecado para a natureza humana e tal semente destruidora vem degenerando toda a criação (Gn. 3.18) desde então, de forma que vícios, doenças, calamidades, violência e tantas outras mazelas que vemos no mundo são efeitos da degeneração da criação que se iniciou com o primeiro pecado humano e que continua se desenvolvendo e se alastrando.

Portanto, se passar por sofrimentos na vida não significa necessariamente que estamos pagando pecados cometidos, muito menos é vontade arbitrária do Senhor que algum de nós sofra.

Ele jamais escolheria arbitrariamente qualquer um de nós para sofrer com alguma dificuldade.

Quando o apóstolo Paulo diz: “[...], mas também nos gloriamos nas próprias tribulações” (Rm. 5.3) ele não está dizendo que as busca nem que as recebe como presentes de Deus. Na verdade, para entendermos o que Deus deseja para nós devemos lembrar das palavras de Jesus quando diz: “Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?” (Mt. 7.9-11).

A relação de Deus para conosco é uma relação de Pai Amoroso. Ele jamais escolheria arbitrariamente qualquer um de nós para sofrer com alguma dificuldade. Se elas surgem em nossas vidas, são consequências da degeneração da criação iniciada ainda no Éden e transmitida de geração em geração, mas a participação de Deus nesses tipos de eventos dolorosos em relação a nós é na posição do Pai que ajuda, que apoia, orienta e que, se preciso for, nos sustém com a Sua destra fiel (Sl. 37.24).

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