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O QUE REALMENTE A BÍBLIA DIZ SOBRE O DOM DE LÍNGUAS

Antes de iniciarmos esse estudo quero afirmar que não tenho a intenção de, com ele, criticar ou denegrir a imagem de qualquer fé religiosa que tenha em seus fundamentos a crença ou a descrença no fenômeno da glossolalia (falar em línguas estranhas), tão somente, pretendo fazer uma análise criteriosa dos relatos bíblicos que têm sido utilizados como base para a crença, por parte de algumas denominações religiosas, no dom de falar em línguas e de sua importância como sinal do batismo no Espírito Santo.
Por ser um assunto complexo que requer um estudo detalhado e relativamente extenso, decidi dividir o tema em cinco textos que serão postados sequencialmente nos dias que normalmente realizo as postagens no Blog, ou seja nas quartas e domingos.

O relato de Marcos

Iniciaremos esse estudo analisando Mc. 16. 14-18, pois é o primeiro relato na bíblia que cita o dom de falar em línguas.
Nesse relato Jesus já havia ressuscitado e aparecido para algumas pessoas e nesse momento reaparece para os 11 discípulos que estavam reunidos. Jesus lhes censura a incredulidade (v.14) e lhes dá a grande missão de pregar o evangelho a toda criatura (v.15).
Mc. 16.17
No versículo 16 Jesus afirma que quem crer e for batizado será salvo e finalmente nos versículos 17 e 18 Jesus passa a citar os sinais que acompanharão aqueles que creem. 
No versículo 17 vemos a seguinte afirmação: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas” (Mc.16.17-ARA). É importante notar que o texto não especifica que línguas são essas nem como ou quando elas seriam faladas, diz apenas que seriam novas línguas.
Nesse ponto precisamos fazer algumas observações.
É necessário observar o contexto em que essas palavras foram ditas. Jesus comissiona seus discípulos a pregar o evangelho por todo o mundo, ou seja, eles pregariam a povos de língua hebraica e não hebraica, em seguida Ele diz que alguns sinais acompanhariam aqueles que cressem, dentre eles, o sinal de “falar em novas línguas”.
Aqui tal dom parece ter fins evangelísticos, pois a boa nova passaria a ser difundida entre diversos povos e as pessoas que ouvissem a pregação precisariam entender o que estava sendo pregado e, uma vez que os primeiros cristãos não eram poliglotas, necessitariam dessa ajuda sobrenatural do Senhor para se fazerem compreender.

As palavras gregas

Outro ponto importante está nas palavras utilizadas no original grego (língua em que foi escrito o Novo Testamento). Quando Cristo diz “novas línguas” o escritor bíblico utiliza as palavras γλωσσα [glossa] (língua) e καινός [kainós] (novo) e aqui há uma pequena divergência entre os comentadores bíblicos, pois, no grego há uma outra palavra que também significa novo e que também é utilizado em algumas passagens bíblicas, tal palavra é νέος [néos] (novo).
Alguns defendem que καινός (kainós) significaria novo, mas no sentido de algo diferente, que ainda não foi utilizado por determinada pessoa, mas, não necessariamente, algo inexistente ou criado recentemente. E νέος (néos), esse sim, significaria novo no sentido de inédito.
No entanto outros comentadores afirmam que ambas as palavras podem significar algo inédito, que não existia antes no mundo.
E qual a importância disso para o nosso estudo? O fato é que, se realmente, καινός (kainós), significa exclusivamente um novo já existente, então Jesus se referia claramente, naquela passagem, a línguas humanas já existentes e não a línguas não conhecidas pelos homens. Vejamos então o que dizem os dicionários da língua grega:

...Jesus estaria se referindo, naquele momento, ao dom de falar línguas de outros povos e não a línguas não conhecidas no mundo

O Dicionário Bíblico Strong divide a essência do significado de καινός (kainós) em duas vertentes, a saber: caso se refira à forma, καινός (kainós) pode significar: recentemente feito, fresco, recente, não usado, não surrado. Caso se refira à substância, καινός (kainós) pode ser entendido como: de um novo tipo, sem precedente, novo, recente, incomum, desconhecido. O mesmo Dicionário Bíblico define o verbete νέος(néos) como: nascido recentemente, jovem, juvenil, novo.
O Dicionário Grego-Português da Ateliê Editorial define o verbete καινός (kainós) como: novo, recente, recém-inventado, diferente, estranho, extraordinário, renovado, imprevisível. Já o verbete νέος (néos)está definido como: novo, jovem, juvenil, recente, fresco, inesperado, incomum, estranho, os recrutas, os mais recentes, os modernos.
Percebemos que as semelhanças entre as duas palavras são muito grandes e as diferenças muito tênues. O Dicionário Expositivo Vine, parece equacionar a contento a relação entre esses dois termos gregos.
Em seu verbete “Novo” o autor esclarece que καινός (kainós) é novo não com relação ao tempo, mas novo em forma ou qualidade, de natureza diferente daquilo com que se contrasta como velho. Já νέος (néos) é novo com relação ao tempo, é aquilo que é recente. Na explanação o autor do Dicionário cita o versículo de Mateus 16 e afirma que as “línguas novas” eram novas não no sentido de nunca terem sido ouvidas pelos ouvintes, mas eram novas para quem as falaria, diferentes da língua que estavam acostumados a falar.
Aliás, tal explicação vem ao encontro do comentário de Roger L. Omanson no Livro “Variantes Textuais do Novo Testamento – Análise e avaliação do Aparato Crítico de O Novo Testamento Grego”. Comentando o versículo 17 de Marcos 16 o autor afirma que “o significado de καινός, neste caso, é quase com certeza ‘estranhas para quem as fala’, e não novas no sentido de línguas que até então não se conheciam”.
Sendo assim, Jesus estaria se referindo, naquele momento, ao dom de falar línguas de outros povos e não a línguas não conhecidas no mundo.

No entanto, existem outros relatos bíblicos do dom de línguas, um deles está no capítulo 2 do Livro dos Atos dos Apóstolos. O que aquele relato nos revela? Que línguas foram faladas? Qual foi o propósito? Estudaremos esse e outros relatos do dom de línguas na próxima postagem do Blog Preceitos de Fé, fiquem na Paz, um forte abraço e até lá.

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Comentários

  1. Quando alguém fala e muitos entendem, se o que fala não conhece o idioma dos que escutam, considero que houve um milagre de audição e não de língua.
    Mas isso não permite que o cidadão seja considerado poderoso! Nem tão pouco proporciona privilégios ao que fala, tornando-o apenas um servo...
    Ah, e não é preciso fazer força para falar...
    E não é preciso um ambiente "telúrico"...
    E também não é preciso evocar espíritos...
    Basta falar, anunciando o que é para ser anunciado e as pessoas ouvirão!
    Mas quem quer algo assim, sem graça?!
    Deus nos abençoe e use!
    Henri - esposo de Sandra - 30 anos.
    Membro da ABACLASS

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    Respostas
    1. Amém irmão Henri! Jesus nos diz que sem Ele nada podemos fazer (Jo. 15.5), não somos capazes de nada por nós mesmo, pois nada temos para dar, toda boa dádiva e todo dom perfeito são do alto (Tg. 1.17), por isso não podemos nos considerar especiais se formos usados por Deus, como o irmão bem disse, somos apenas servos e nada podemos se não tivermos a graça do Pai.
      Caso o irmão não tenha visto, já postei a segunda parte desse estudo que estou realizando no blog, te convido a acompanha-lo. O irmão pode acessar a segunda parte do estudo neste link: http://www.preceitosdefe.blogspot.com.br/2014/05/o-que-realmente-biblia-diz-sobre-o-dom_21.html
      ou entrar na página principal do blog. As próximas partes do estudo serão publicadas nas próximas postagens de quarta e domingo.
      Deus abençoe o irmão, sua esposa Sandra e toda a sua família.
      Um forte abraço.

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    2. Simplificando se encontra-se um russo e Deus me desse o dom de línguas eu falaria e o Russo entenderia, simples assim. E não isso que fazem por aí brincando com a fé das pessoas, ir à igreja é muito bom, mais estudar a palavra evita que essas coisas aconteçam. Hoje em dia se usa versículos para beneficiar algo, e não um estudo por completo. Xenoglossia (do grego xen(o) = estranho, estrangeiro + gloss(o) = língua) consiste no falar, de forma espontânea, em língua ou línguas, que não foram previamente aprendidas.[1]

      É também um suposto fenômeno metapsíquico no qual uma pessoa seria capaz de falar idiomas que nunca aprendeu, como, por exemplo, uma pessoa começar a falar alemão fluentemente sem nunca ter aprendido alemão, ser alemão ou conviver com alemães.

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  2. A Paz do Senhor Pastor. Que Deus continue o abençoando.

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