A BÍBLIA COMO ORÁCULO

Tenho observado com tristeza a multiplicação, nas igrejas, dos irmãos que têm usado a Palavra de Deus como um oráculo da sorte, como se fosse um tipo de “astrologia divina”, onde a cada dia, escolhem, ao acaso, um versículo bíblico, e ao lê-lo, normalmente isoladamente, o interpretam, quase sempre fora de contexto, e o tomam como sua “sorte” do dia.

Textos isolados

Para maior infelicidade, algumas igrejas estimulam tal prática ao produzirem uma espécie de caixa de mensagens, repletas de versículos isolados da Palavra de Deus, e distribuírem entre seus membros.

Infelizmente, alguns irmãos pensam sinceramente que dessa forma estão estudando a bíblia e alguns chegam até mesmo a decorar alguns versículos, mormente aqueles mais “sorteados” em suas consultas diárias.

No entanto, será que tal procedimento atende à repreensão do Mestre ao dizer: “errais não conhecendo as escrituras?” será que a bíblia foi escrita para que a usássemos como um brinquedo de sorte?

O apóstolo Timóteo, em sua segunda epístola, nos revela que Toda a Escritura é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça (2Tm. 3.16), será que ao lermos versículos isolados, escolhidos por sorte, diariamente, ou quando passamos por alguma dificuldade, estaremos de fato, nos dedicando a nossa educação na justiça?

O evangelista Lucas relata uma pregação feita por Jesus na sinagoga, onde o Mestre, lê aos presentes o texto que corresponde hoje aos versículos 1 e 2 do capítulo 61 do Livro de Isaias, no entanto, percebamos que o objetivo ali não foi dizer a sorte daquelas pessoas nem mesmo passar uma mensagem confortante para os que ali estavam, e sim, fazer uma revelação: mostrar aos judeus que Ele, Jesus Cristo, era o Messias. Jesus não se limita a lê o texto, mas explica-o. (Lc. 4.16-27).

Conhecer a Palavra

Não há em nenhum local da bíblia o exemplo de alguém sorteando partes das escrituras para lê-la como quem busca o horóscopo do dia, prática, aliás, condenável nas escrituras (Is. 47.13-14).

Ao contrário, encontramos diversos exemplos de pessoas estudando ou sendo ensinadas por meio de longos trechos das Escrituras: Jesus explicando as escrituras aos dois discípulos que iam a Emaús (Lc. 24.25-27) e Felipe anunciando Jesus ao eunuco que lia o livro de Isaías (At. 8.26-35), são alguns desses exemplos.

Na verdade só há, na bíblia, o relato de um ser que cita trechos da Palavra de Deus, isolados e fora de contexto: Satanás, quando tentou a Jesus no deserto (Mt. 4.6).

Como devemos então estudar a Palavra de Deus? O Senhor falando a Josué recomenda: “Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite” (Js. 1.8), o escritor de Hebreus ainda recomenda que não nos contentemos em estudar apenas as partes básicas e, consequentemente, mais fáceis das Escrituras, mas que busquemos nos aprofundar no conhecimento da Palavra de Deus (Hb. 6.1-2).

O conhecimento das Escrituras, nos moldes requeridos pelo Senhor, pressupõe o estudo sério, frequente e perseverante da Palavra de Deus...

Portanto, devemos compreender que, embora não exista nenhum mal em lermos versículos isolados vez por outra e admirarmos aquelas bonitas mensagens com versículos bíblicos e alguma bela paisagem que circulam nas mídias sociais, não podemos resumir todo nosso conhecimento da Palavra de Deus a esses momentos.

Devemos ter em mente a recomendação do apóstolo Paulo a Timóteo quando diz que devemos nos apresentar a Deus como obreiros aprovados que não tem do que se envergonhar e que maneja bem a palavra da verdade (2Tm 2.15).

Lembremos ainda que Pedro nos recomenda também a estarmos sempre prontos a responder a todo aquele que nos pedir razão da esperança que há em nós (1Pe. 3.15).

Ora, como manejaremos bem a palavra da verdade e como estarmos prontos para responder sobre a nossa esperança em Jesus Cristo, se não nos dedicarmos a conhecer a Sua Palavra?

O conhecimento das Escrituras, nos moldes requeridos pelo Senhor, pressupõe o estudo sério, frequente e perseverante da Palavra de Deus e não uma brincadeira de adivinhação.

É bem verdade, que em muitos momentos iremos encontrar dificuldades, seja pelas vicissitudes da vida, seja pela complexidade do próprio texto bíblico. No primeiro caso, lembremos que a fé produz perseverança (Tg. 1.3), no segundo caso saibamos que sendo as coisas espirituais discernidas espiritualmente (1Co.2.14) roguemos ao Senhor que nos dê compreensão, e Seu Espírito Santo nos ensinará todas as coisas (Jo. 14.26).

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